Quadros com base em poesias

 
 
               
                           
 
"EU"

Águia agrilhotada
sem sabor a liberdade
Loba revoltada
desde sempre, desde a puberdade
Na mansidão da maternidade
pariu sem dó nem piedade
sentiu-se tão acoitada
e sempre tão pouco amada.

Ana Isabel Bessa   
 
 

 
 
SAMARITANA

Negros cabelos te encobrem, na noite
em que vais encher o cântaro
à fonte, no alto do monte.

_________________Só as copas dos pinheiros e as flores vermelhas
_________________te falam do vento que afastou a neve,
_________________levando a marca dos teus passos leves.

O rebanho passou…uma ovelha perdida encostou-se ao castanheiro
transida de medo e frio…um pastor espera-a,
na beira do rio,na margem da fonte.

(As oliveiras descansam ao som da água, numa colina de Jerusalém.)

_____________________________Faúlhas de luz dos raios das estrelas cheiram
_____________________________à resina da noite, que odora as ravinas
_____________________________da tua cintura estreita…

E em teus olhos de violeta estende-se um corpo
colado aos anseios da escuridão,
que te alimenta os devaneios de humana excitação.

Matas a sede…enches o pote…soltas os cabelos presos
numa grinalda de fios de luar que,
passando por desertos e oceanos,
te falam dos segredos -que-deixam-de-o-ser…

_________________________Cobrem-te as folhas mortas dos bosques…
_________________________na alegria do degelo dos sentidos, VIDA-BEM.

Sabes que o mundo é, agora, TUDO o que te separa do mundo, também…
E o cântaro cheio é uma ilha do teu arquipélago-a-ser,
na brancura da noite de alabastro que acabas de viver .

Os pássaros dormem, pendurados nas figueiras de figos-mel,
até ao silêncio dos anos em que o sul será engolido pelo vento.
Teu cabelo recolhido num beijo vida, desces a vertente,
cansada de fôlego-alma… mistério escondido no tronco das árvores
cheias de vírgulas nas pausas deitadas, ao comprido, num regato fluido.

_______________________De manhã, levantas-te para falar ao sol…
_______________________e comerás azeitonas negras, sentada na borda
_______________________do poço, onde a seiva de um poema é feita
_______________________de caules e folhas de um místico segredo.

Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
JAN/014
 
 
 
"BAILANDO COM OS ANJOS"

ENTARDECIA.......
A TELA A COR E EU,
ROUCA VOZ ENALTECIA
SOM DO BATIMENTO SURGIA
FRAGRÂNCIA  INALEI,
VOLTEOU,FALOU, ANDEI..
PERSUADIDO BRACEJEEI,
EXTASIADO,DEMENTE... 
ARVORES QUE FOGEM
GEMIDOS MUSICAIS
MINHA ALMA CRENTE
OLHARES DE FOGO,
CORPOS EM NÓ,
SOL SEM DÓ,
BEIJO MOROSO,
PERSPIRANDO,
INSACIÁVEL,
LOUCO AMANDO,
LENÇÕES DE LUAR,
SOMBRAS DE RIO,
ANJOS BAILANDO,
ROSTOS MOLHADOS,
FLOR DE SAL,
PROMESSA VITAL,
OLHOS GOTEJAM,
MINHA DOLÊNCIA,
ANJO DIVINAL,
DEUS TE LEVOU,
E ASSIM CRIOU....
A TUA AUSÊNCIA!!!

Guilherme d'Almeida
 
 
 

NOITE DESCALÇA
. a noite desce a fechar , lentas, as pálpebras ensonadas
. o crepúsculo chega tão rápido que não tem tempo para
pensar, seja na luz, seja nas trevas, do dia a esmorecer
. como é habitual, a noite chega a dançar descalça…
. bate palmas com as mãos feitas de estrelas
e vai alojar-se debaixo das árvores e das flores do quintal
.passou o dia nas asas dos pássaros
a abrir rotas de nuvens.
.passou nos lagos do mar e
espalhou sons de flautas nas colinas verdes
suspensas da geografia do sol
.tão numerosas como as minhas palavras,
viajaram nela as andorinhas com cheiro a suco de rosas,
latejando aromas de pólen criador
.o dia passa…a noite vem…eu-estou-comigo
-sem-saber-com-Quem
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
 
 
 
 
Ondas de Amor
 
 

"MEU ANJO"

QUERIA UM PAR DE ASAS,
SAIR DO CHÃO -VOAR,VOAR,
VIAJAR ENTRE AS NUVENS,
CONFESSAR-ME COM O LUAR.

PROCURAR ENTRE AS ESTRELAS,
ATÉ ENCONTRAR VOCÊ,
QUERIA TE ACHAR MEU ANJO,
DIMINUIR MEU SOFRER!

AH SE EU TIVESSE ASAS,
SE EU PUDESSE VOAR,
EU ABANDONAVA TUDO,
E IRIA TE ENCONTRAR..

MEU ANJO ILUMINADO,
MEU ANJO BOM E AMIGO,
NÃO TENHO ASAS MEU ANJO,
MAS SINTO VOCÊ COMIGO !!

JANE ROSSI
 

 

 

MEU-CORPO-SER…

Num místico anel de fogo está a noite do meu corpo-ser-a-irradiar.
Raios de luar fecundam a terra, a cantar luz de encantar.
Enrodilhada no halo de fogo frio da noite vazia,
escondo-me num canto de silêncio a ouvir a melodia
do vento a sibilar,
tentando desfazer o mágico alfabeto do meu tecto de deslumbrar!

Estou presa numa fronteira,
da qual não quero fugir
sem sentir que o teu ser
se me desvenda, a fulgir…

A noite, intacta, passeia por entre nós
com passos de orquestra melódica…
Sabe a nossa sinfonia de suores e de odores…
Conhece, como ninguém,
as teclas exóticas do nosso mundo a soar.
E os segredos do teu ser, lavados pelo luar,
são como um anel de fogo de que não quero abdicar.

Conheço o teu perfume-círculo- de- lume- brando, onde dorme
a madrugada, deixando-nos a alvorecer…
E nossa alma não dorme…
Está ali, fogosa e viva, a morrer por nova vida!

Mantemos, bem funda em nós,
a tortura do beijo que falta dar
de todos os que já demos, até nos faltar o ar…

Há dunas amareladas no passeio do vento, que silva
mares de calor abstracto
diferente do que nos promete o círculo de fogo compacto,
que assola o espaço-do-deslumbramento.

No labirinto do amor
desponta um poema lindo, tecido de fios de ouro que desfiz,
ao armar uma teia de ternura, com aroma de flores-de-lis.
Não sei se há estrelas no céu de agora…
Não sei se o luar resiste, ainda…
Não sei se o mar já está a brilhar…
Mas sei
que fixei teus olhos de ouro…
…que respirei o aroma do teu viver…
…que enredei as veias do teu corpo…
…e que-tudo-foi-fogo-de-arder…

( Na serra, a neve cai,
branca como flores de marfim !

Maria Elisa Ribeiro

 


Triangle
Pelo amor, os deuses do céu e as sereias do mar divido e junto as artes para o ser humano superar

Pensadora: Maria de Lourdes Castelo Branco    

 

  

 

"CORES"

Fiquei a olhar como se fosse ontem...
A digerir sem engolir uma vida imposta, sem opções.
...
Vejo borboletas e flores,
pássaros e árvores,
crianças e animais, azul e branco, verde e amarelo...
Não preciso de misturar cores
para encontrar a cor perfeita,
o brilho...
não misturo cheiros para ter "o cheiro".

Quando as ondas do mar invadem o pintor,
envolve-me num mar de poesia,
na sua dança louca pela vida.

Um de cada vez,
separados pelas vírgulas da individualidade.
--
Ana Isabel Bessa